sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Sangrar

Será que em algum momento, saciados, fingimos fome para se deliciar com um gosto bom?

Aprendemos, desde inocentes, a fingir caras de desejo por algo desconhecido.
Fingimos dor de barriga, para procrastinar a escola num dia chuvoso,
Fingimos sabedoria barata para impressionar nosso próprio ego.

Aprendemos a fingir, fingir se torna utilizável e esta utilidade se torna presente.
Presenteamos o outro com um pouco de fingimento que, apesar de forçado, funciona.

Fingimos amor à dona do primeiro beijo, para mais beijos serem jogados, podemos amar o beijo, mas fingimos a dona.

Fingimos dor de dente, fingimos errar o caminho; fingimos, fingimos e fugimos.
Fingindo somos refugiados da verdade fugaz.

Vivemos fingindo que a vida que temos é um fingimento colorido e feliz.

Chegasse um dia que a técnica se aprimora e a história de si, enrola;
Tornamo-nos mestres na arte de fingir, fingimos amar, sorrir, sentir, morrer e viver.

Fingimos que o trabalho nos diverte, que o importante nos sorrisos é a brancura dos dentes,
Que o gosto da comida esta nos dígitos que pagamos e que paisagens são mais lindas do que rostos.
Fingimos até que existe comprovação de sabedoria, fingimos até que existe certo.

Fingimos perfeição no meio da beleza do caos, fingimos que o outro só sabe fingir.

Seria bom não fingir a fúria diante da realidade, ser sincero com a futilidade, abraçando-a.

Fustigando nossa fúria com uma foice afiada, ceifamos nossa única parte única, fingindo maturidade.

Temos que preferir sangrar de fúria à fingir sangrar.

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